Nos dias atuais temos nos deparado muito, enquanto escola, com alunos diagnosticados com TDAH. Se para nós, Escola, não é fácil, nem simples a adaptação desses alunos nos modelos de Educação mais tradicionais, imagina para os pais que têm uma rotina agitada, muitos afazeres, mais de um filho, enfim, uma dinâmica muitas vezes sem tempo e paciência. Pensando nisso, trouxemos um trecho de um artigo científico que fala sobre o impacto de uma criança com TDAH na dinâmica familiar. Além disso, o artigo reafirma o que nós Escola sugerimos aos pais sempre: A BUSCA DE TRATAMENTO ESPECIALIZADO É FUNDAMENTAL PARA A CRIANÇA E A FAMÍLIA! Além do trecho abaixo, deixamos disponível o link de acesso ao artigo completo. Se o seu filho tem alguma dessas características listadas nesse estudo, procure ajuda.
Compreendendo o impacto do TDAH na dinâmica familiar e as possibilidades de intervenção
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100010
Edyleine Bellini Peroni BenczikI; Erasmo Barbante CasellaII
IDoutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), São Paulo, SP, Brasil;
IIMédico Neuropediatra da Infância e Adolescência, Professor Livre Docente em Medicina pela Universidade de São Paulo, Responsável pelo Ambulatório de Distúrbios do Aprendizado do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil;
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é considerado uma desordem neurobiológica que afeta entre 3% a 7% da população infantil, tanto no Brasil quanto em outros países do mundo. Hoje, estima-se que 50% a 80% das pessoas que tiveram o TDAH na infância continuam a apresentar na vida adulta, sintomas significativos associados a importantes prejuízos em diversas esferas da vida cotidiana.
O TDAH é considerado como um transtorno multifatorial e heterogêneo do ponto de vista clínico e é reconhecido como um dos maiores desafios para pais, professores e especialistas, em função da ampla variedade de comprometimentos que o quadro promove.
O DSM-5 descreve o TDAH como um conjunto de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade que se manifestam por meio de um padrão persistente e frequente ao longo do tempo. Esses sintomas dizem respeito ao excesso de agitação, inquietação, falta de autocontrole, falar em demasia, interromper os outros, responder antes de ouvir a pergunta inteira, incapacidade para protelar respostas, como também distrair-se com facilidade, não prestar atenção a detalhes, dificuldade para memorizar compromissos, organizar e realizar tarefas, perder objetos, entre outros.
Pesquisas mais recentes apontam também para a existência de déficits em alguns aspectos das funções executivas, entre as quais cita-se a o déficit na inibição de respostas, atenção sustentada, memória de trabalho não-verbal e verbal, planejamento, noção de tempo, regulação da emoção, perseverança e na fluência verbal e não-verbal.
No âmbito familiar, esse transtorno é sentido como um fator que promove dificuldades no convívio e no dia-a-dia. Em casa, os pais acusam a criança de “não escutar”, de não seguir regras e normas, de não conseguir completar as solicitações mais simples, de reagir com agressividade e de não tolerar frustração4. O excesso de atividade motora, o alto nível de impulsividade evidenciada na antecipação das respostas e na inabilidade para esperar a sua vez, diante de um acontecimento, pode provocar, geralmente, um impacto negativo nas relações sociais e ou familiares e promover um alto nível de estresse com quem convive com a criança ou adolescente.
As interações familiares de pais e filhos que tenham o diagnóstico de TDAH são marcadas, frequentemente, por mais conflitos, sendo a vida da família caracterizada, geralmente, pela desarmonia e discórdia, impactando na qualidade de vida de todos os membros do núcleo familiar. Muitos pais relatam depressão, um nível baixo de autoestima e fracasso em seu papel como pais, bem como, pouca satisfação com o envolvimento em suas responsabilidades paternas, sentimentos de incompetência em relação às suas habilidades de educar e bem-estar psicossocial inferior, em comparação à outros pais.
Por outro lado, os pais tendem a encarar o seu filho como inoportuno, aversivo e desobediente ou, ainda, preguiçoso, mal-educado e inconveniente, e que tem muita dificuldade para se adaptar no ambiente onde convive e para corresponder às expectativas dos adultos4,11.
Além da dificuldade de convivência com os seus filhos com TDAH, os pais se deparam com outra questão: a frequente rotina de evitação, postergação e esquecimento das tarefas cotidianas. Os pais descrevem uma rotina familiar estressante, pois as tarefas mais simples podem se tornar uma missão quase impossível de o filho realizar, como, por exemplo, tomar banho, escovar os dentes, sentar para as refeições, de se preparar para dormir, pegar no sono e fazer as tarefas de casa. Os pais tendem a reagir com maior direcionamento, controle, sugestão, encorajamento e, finalmente, raiva.
Alguns pais podem, simplesmente, desistir nesse ponto, concordando ou fazendo as tarefas eles próprios ou simplesmente deixando a tarefa por fazer. E, com o passar do tempo, alguns pais tendem a atingir um estado de fracasso na condução de seu filho que pode ser descrito como sendo um estado de “impotência aprendida”. Eles podem fazer o mínimo ou nenhum esforço para dar ou reforçar ordens aos seus filhos, deixando-os fazer o que lhes agrada, deixando-os com pouca ou nenhuma supervisão.
O TDAH, muito frequentemente, pode causar problemas matrimoniais para os pais ou de relacionamento para um deles. Nesse caso, o pai pode julgar exagerados os relatos da mãe ou decidir que a criança piorou de comportamento pelos resultados maternos, por a mãe ter sido muito permissiva. Ele pode concluir que é a mãe, e não a criança, que necessita de assistência profissional. Pode acontecer, também, do médico não ter dificuldades para lidar com uma criança com TDAH, e aí ele rotula a mãe de histérica e incompetente. No entanto, já passou da hora de os pais e profissionais perceberem que crianças, especialmente aquelas com TDAH, diferem em suas respostas diante de mães e pais. Qualquer mãe ou pai que duvide disso deveria permitir que o pai assumisse a responsabilidade maior de cuidar do dia-a-dia da criança por um tempo e constatar que seu ponto de vista sobre os problemas de comportamento da criança se assemelham aos da mãe.
E, os conflitos interacionais em famílias de crianças com TDAH não se limitam às interações entre pais e filhos e entre o casal, mas o relacionamento de crianças com TDAH com seus irmãos e irmãs também parece diferir daquele observado em outras famílias. Crianças com TDAH argumentam mais, divertem-se mais disruptivamente, gritam mais com seus irmãos e são mais suscetíveis a encorajarem-se por um comportamento inapropriado ou danoso; portanto, não é surpresa que o conflito seja maior que o normal. Irmãos e irmãs tendem a crescerem cansados e exasperados, por viverem com a força disruptiva e instável do irmão e, certamente, o maior tempo e atenção que a criança acometida pelo transtorno recebe dos pais é frequentemente fonte de inveja, especialmente quando os irmãos sem TDAH são mais novos.
As pesquisas são conclusivas ao afirmarem que os sintomas apresentados pela criança com esse transtorno promovem, geralmente, um alto impacto na dinâmica familiar, no entanto, as relações familiares têm um caráter bidirecional, ou seja, não é somente a criança que influencia o comportamento dos pais, mas o comportamento destes também influencia o comportamento dos filhos, pois formas disfuncionais das reações parentais ao comportamento dos filhos com TDAH podem gerar sintomas do Transtorno Desafiador de Oposição e de Conduta, além do que interações negativas afetam o autoconceito da criança.
Esse ciclo de interação da criança e dos pais contribui para o crescente aumento do conflito, mas a criança contribui mais do que os pais poderiam imaginar. Tenha em mente, obviamente, que a criança não faz isso intencionalmente.
A direção principal dos efeitos nas interações é da criança para os pais e não o contrário. Os pesquisadores explicam que grande parte dos problemas nas interações familiares parece partir dos efeitos do comportamento excessivo, impulsivo, desordenado, desobediente e emotivo da criança sobre os pais, e não do comportamento dos pais sobre a criança.
Pais de crianças com TDAH precisam de assessoria para o desenvolvimento de habilidades pessoais consideradas essenciais para a interação social, tanto no âmbito familiar como extrafamiliar, e de habilidades sociais específicas para proverem o desenvolvimento dos filhos. Os déficits no repertório das mães para atuar frente às demandas interpessoais do dia-a-dia, somadas às cobranças de várias fontes, como o marido, a escola, os parentes, outros filhos, no sentido de controlar os comportamentos do filho, representam um risco para a interação positiva com as crianças, favorecendo a adoção de práticas educativas coercitivas, sentimentos de incompetência parental e indícios de estresse, como identificados nos estudos.
BUSQUE AJUDA!!!
BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni e CASELLA, Erasmo Barbante. Compreendendo o impacto do TDAH na dinâmica familiar e as possibilidades de intervenção.
Rev. psicopedag. [online]. 2015, vol.32, n.97 [citado 2021-08-30], pp. 93-103
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862015000100010&lng=pt&nrm=iso